Os equívocos do senhor Embaló

Há dias, de regresso à Guiné-Bissau, vindo do Senegal, Níger e Nigéria, o senhor Embaló, que se autoproclama “Presidente da Guiné-Bissau”, fez um conjunto de declarações equivocadas, com linguagem disparatada à mistura, indignas inclusive de um político que quer ser encarado com alguma dignidade. Em qualquer parte do mundo, quem faz política deve dignificar o cargo e a instituição que representa, facto que o deve levar a evitar declarações insultuosas inclusive contra quem discorda.

O senhor Embaló não precisa de concordar com o Presidente João Lourenço e, na discordância, um mínimo de respeito é exigido a quem se quer fazer respeitar.
A política, independentemente de ser encarada como pouco séria por causa de pessoas que dela se servem, em vez de a usarem para servirem, ainda deve ser feita com valores que dignificam os que a exercem, as instituições que representam e o país. O senhor Embaló, com as declarações feitas em que se referiu a Angola e às suas autoridades, demonstrou que não respeita a instituição que pretende a todo o custo representar, além da incontinência verbal.
O primeiro equívoco deste senhor que parece mal conhecer as regras básicas da convivência política e procedimentos elementares de tratamento entre os políticos e não necessariamente homólogos em pé de igualdade legítima e legal, tem a ver com o facto de caracterizar a República de Angola como “país africano mais violento”.
Salvo se tiver um conceito desconhecido sobre violência, de que estaríamos interessados em saber, Angola, ao lado dos outros países da sub-região em que se insere, é dos mais estáveis, pacíficos e seguros comparativamente a outros. Relativamente ao funcionamento de um Estado democrático, o senhor Embaló cometeu um outro erro, ao chamar para si a autoridade para prender ou deixar de prender pessoas, uma atribuição exclusiva das autoridades judiciais em qualquer democracia.
Quando diz que o Presidente João Lourenço “está a perseguir a pessoa que lhe entregou o poder de forma gratuita” e que “o poder em Angola foi dado de bandeja”, o senhor Embaló está mais do que equivocado. Está a cometer um disparate irreparável porque, em Angola, João Lourenço foi eleito Presidente em eleições gerais vencidas pelo partido MPLA, sem precisar de “tomada de posse simbólica”, de recorrer aos militares para se impor como “Presidente” e sem insultar os diplomatas, como fez o senhor Embaló.
Em Angola, o Presidente João Lourenço não decreta a prisão ou detenção de ninguém e todas as movimentações policiais e judiciais são da completa responsabilidade do sector da Justiça.
Se o senhor Embaló tem “razões para não perseguir o filho do seu antecessor” porque lhe deve alguma gratidão, ninguém pretende contrariá-lo desta iniciativa que, no mínimo, revela o entendimento e visão do “autoproclamado Presidente” da Guiné-Bissau quanto à separação e ao exercício do poder político.
Por um lado, Angola não pretende dar exemplo de democracia a nenhum Estado, por outro, é completamente inaceitável que o senhor Embaló se arrogue ao direito de fazer declarações insultuosas contra o seu povo e as suas autoridades.
Para todos os efeitos, a comunidade internacional está à espera de clarificação do processo eleitoral, cujo desfecho continua inconclusivo até hoje. Não se percebe como é que no andamento de um processo, com contornos políticos e jurídicos, um dos actores, antecipando-se ao Tribunal Supremo e à CNE, se dá ao direito de se autoproclamar Presidente da República.
Senhor Embaló, saiba que Angola augura apenas que a Guiné-Bissau normalize a sua situação política e constitucional, que não resvale para a instabilidade política, potenciada pelo seu acto tresloucado. Que Angola só pretende contribuir para o melhor e nunca imiscuir-se negativamente nos assuntos internos da Guiné-Bissau, como equivocadamente pensa o senhor Embaló.

Fonte: Diario Angola