CARLOS LOPES SOBRE A GUINÉ-BISSAU


FONTE: Público

PERGUNTA: Em relação à Guiné-Bissau, o que poderá acontecer à economia?

RESPOSTA: A Guiné-Bissau tem três vantagens neste quadro. A primeira vantagem é que a sua economia estava já no barranco, é muito difícil fazer pior, do ponto de vista da performance macroeconómica, sobretudo, tendo em conta que a performance macroeconómica diz respeito à parte visível da economia, que é muito pequena na Guiné-Bissau, país de ilícitos onde a economia informal prolifera. A segunda vantagem é que o banco central não é guineense e o banco central da zona está protegido pelo acordo do CFA [a Guiné-Bissau usa uma moeda única, o franco CFA, que é gerido por um banco central comum a oito países da África Ocidental]. A Guiné-Bissau, em vez de ir ao estrangeiro, vai ao seu banco central, onde pode contrair-se dívida pública com custos muito baixos, melhores até do que os empréstimos do BM e do FMI, só que com limites em termos de acesso a capital. E a terceira vantagem é que, por causa das suas fragilidades, vai ter acesso a todos os benefícios – o perdão dos juros está adquirido para o multilateral, provavelmente também será perdoado para o bilateral e poderá, inclusive, ter um perdão completo da dívida. Mas, quando se diz que a Guiné-Bissau cresce a 4%, essa é a parte formal da economia, porque a maior parte da economia não é contabilizada, e eu estou mais preocupado com a consequência social desta crise na Guiné-Bissau do que com a consequência macroeconómica, porque a economia real, aquela que toca as pessoas, que não passa pelo Estado, que é informal, está sendo devastada.