LIGA DOS DIREITOS HUMANOS NA GUINÉ-BISSAU EXIGE RESTITUIÇÃO DA ECOMIB AO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

A Liga Guineense dos Direitos Humanos exigiu a restituição da Ecomib, força de interposição da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), aos magistrados do Supremo Tribunal de Justiça.
Num comunicado divulgado na quarta-feira na rede social Facebook, e a que a Lusa teve hoje acesso, a Liga Guineense dos Direitos Humanos exige a “restituição das forças de segurança da Ecomib aos magistrados do Supremo Tribunal de Justiça como condição imperiosa para assegurar a independência do poder judicial no atual contexto político e permitir a conclusão definitiva do processo eleitoral”.
A organização pede também às forças de defesa e segurança para se absterem de “disputas políticas, devendo pautar as respetivas condutas à defesa da legalidade democrática, manutenção da ordem pública e à proteção dos direitos humanos”.
A Liga Guineense dos Direitos Humanos pede aos políticos guineenses a “máxima contenção e tolerância, enquanto se aguarda pela conclusão do processo eleitoral por ser a única via para a resolução definitiva e sustentável da crise vigente”.
Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições presidenciais pela Comissão Nacional de Eleições, e que tomou posse como Presidente do país, sem ter terminado o contencioso eleitoral que decorre no Supremo Tribunal de Justiça, ordenou no início desta semana o acantonamento das forças da Ecomib, cuja missão termina este mês.
Na sequência da tomada de posse, Umaro Sissoco Embaló demitiu Aristides Gomes, que lidera o Governo que saiu das legislativas e que tem a maioria no parlamento do país, e nomeou Nuno Nabian para o cargo.
Após estas decisões, os militares guineenses ocuparam e encerraram as instituições do Estado guineense, impedindo Aristides Gomes e o seu Governo de continuar em funções.
O presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, que tinha tomado posse como Presidente interino, com base no artigo da Constituição que prevê que a segunda figura do Estado tome posse em caso de vacatura na chefia do Estado, renunciou ao cargo por razões de segurança, referindo que recebeu ameaças de morte.
Umaro Sissoco Embaló afirmou que não há nenhum golpe de Estado em curso no país, que não foi imposta nenhuma restrição aos direitos e liberdades dos cidadãos e que aguarda pela decisão do Supremo Tribunal de Justiça.
Mediadora da crise guineense, a CEDEAO voltou a ameaçar impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional estabelecida na Guiné-Bissau e acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos políticos.
As Nações Unidas, a UE e a Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) apelaram ao diálogo e à resolução da crise política com base no cumprimento das leis e da Constituição do país.
Uma missão da CEDEAO prevista para começar na segunda-feira foi cancelada, tendo Umaro Sissoco Embaló, que iniciou terça-feira uma visita ao Senegal, Níger e Nigéria, afirmado aos na jornalistas que a decisão de cancelar a missão foi ordenada por si.
Conosaba/Lusa

GOLPE DE ESTADO: Umaro Embalo com seus amigos, Aristides Gomes escapa de um assassinato

FONTE: IsiÁfrica

É uma situação totalmente grotesca pela qual a Guiné-Bissau está passando . Na segunda-feira, 2 de março, a CEDEAO disse que não podia “reconhecer órgãos criados e instalados fora dos marcos constitucionais e legais”. Mas Umaro Sissoco Embalo obviamente não se importa.

Nesta terça-feira, 10 de março de 2020, quem se chama “presidente eleito” da Guiné-Bissau iniciou uma turnê em três países da África Ocidental, Senegal , Níger e Nigéria . Três países que não foram escolhidos aleatoriamente, pois além da pressão exercida pelos líderes desses três países para aceitar o apoio eleitoral de Umaro Sissoco Embalo à comunidade internacional, Macky Sall, Muhammadou Buhari e Mahamadou Issoufou têm outros fortes laços étnicos.

Umaro Embalo, Muhammadou Buhari e Macky Sall são da etnia Fulani e Mahamadou Issoufou é da etnia Hausa. Esta tabela facilita a compreensão dos vínculos sólidos entre esses três chefes de estado e seu Umaro Embalo, presidente autoproclamado potro da Guiné-Bissau. Desde o início desta grande crise política nascida das disputadas eleições de 29 de dezembro, Macky Sall , Muhammadu Buhari e Mahamadou Issoufou sempre apoiaram Umaro Sissoco Embalo, muitas vezes violando as leis fundamentais da Guiné-Bissau. Embora o litígio eleitoral ainda não seja evacuado, e que o Supremo Tribunal, a mais alta jurisdição do país ainda não tenha decidido o resultado da pesquisa, esses três chefes de estado receberam Umaro Sissoco Embalo com o honras da república.

“Escândalo odioso, comédia grotesca”, exclama um diplomata das Nações Unidas estacionado em Dakar. “É uma violação da constituição de um país, e receber um candidato que não é oficialmente declarado vencedor é uma vergonha para esses três chefes de Estado” , continuou nosso interlocutor que pediu anonimato.

Em discurso na segunda-feira diante do Parlamento da CEDEAO, o chefe de estado nigeriano, presidente em exercício da organização, endereçou escandalosamente seus “parabéns ao vencedor”, mesmo sem mencionar o nome de Umaro Sissoco Embalo.

Em Abidjan e Conakry, a mensagem não foi transmitida. O Presidente Alpha Condé defende abertamente o retorno à ordem constitucional e não perde nenhuma oportunidade de falar com as chancelarias ocidentais.

A mesma posição em Abidjan, onde Alassane Ouattara está acompanhando a situação com muito cuidado. Mesmo que ele não tenha falado publicamente sobre a crise política na Guiné-Bissau, o presidente da Costa do Marfim confia seus aborrecimentos a seus parentes pela imprecisão mantida pela CEDEAO sob a liderança de Macky Sall, Muhammadu Buhari e Mahamadou Issoufou, três de seus colegas que validaram o golpe eleitoral.

Nos últimos dias, a situação permaneceu tensa em Bissau. O primeiro-ministro reconhecido pela comunidade internacional, Aristides Gomès , escapou por pouco de um assassinato na quarta-feira. Exfiltrado de sua casa 15 minutos antes da chegada de um destacamento impressionante de homens fortemente armados, o primeiro-ministro Aristides Gomes ainda está desaparecido.

Se vários de seus colaboradores foram presos por soldados próximos a Umaro Sissoco Embalo, o primeiro-ministro teme por sua segurança e pela de sua família.

Nas mídias sociais e na mídia, Aristides Gomes continua pedindo ajuda à comunidade internacional para restaurar a ordem constitucional.

Alice Martina

OPINIÃO: QUE VERGONHA! SINDICATOS A DAR TRÉGUA A UM GOVERNO ILEGAL

quarta-feira, 11 de março de 2020

Nunca os sindicatos da Guiné-Bissau receberam tanto de um patronato como na governação de Aristides Gomes, mas sempre remaram contra a maré, mostrando um extremismo e uma hostilidade sem precedentes.

1. Pediram salário mínimo de 50 mil francos CFA, o Governo cumpriu, passando a Guiné-Bissau a ser o 3° país da sub-região com melhor grelha mínima.

Em vez de agradecerem voltaram à carga, exigindo a implementação da Carreira Docente.

2. O Governo cumpriu. A Carreira Docente foi instituida mas as greves nunca paravam. Exigiram depois o pagamento de todos os atrasados…;

3. O Governo esticou a corda… e pagou mais de 4 bilhões de atrasados, incluindo 5 anos de salário das empresas públicas privatizadas, cujos trabalhadores continuavam, anos a fio, a reclamar dívidas.

Em resposta forjaram um novo Caderno Reivindicativo, desta vez exigindo o salário mínimo de 100 mil francos.

Todos os esforço do Primeiro-Mínistro Aristides Gomes eram insignificantes para Julio Mendonça e os seus acólitos. Tudo porque, no fundo, a estratégia era denegrir a imagem do Governo através da paralisia total do funcionamento das instituições para, com isso, justificar a eventual queda do executivo.

Pela primeira vez as greves não tinham tréguas ou tempinho de graça. Mesmo em plena Campanha Eleitoral. Valeu tudo para desacreditar o PAIGC e o seu Governo. Mesmo sendo legal, com Programa e Orçamento aprovados.

Chega um Governo Ilegítimo, eis que os sindicatos resolvem conceder todas as graças…Assinaram acordo, que veio por fim as hostilidades. Uma trégua muito apressada…que está a suscitar muitos comentários…

Vale a pena perguntar ao Júlio Mendonça sobre esta mudança de 8 a 80 com um Governo ilegal, que nem garantias de fazer passar o Programa tem…

A máscara de hipocrasia dos sindicatos caiu. Só lhes restam pedir desculpas aos Pais e Encarregados de Educação pela nulidade dos 2 ultimos Anos Lectivos. Que vergonha! Esta palhaçada da sindicância política na capa de sindicalismo!

Eleutério Pontes

GUINÉ-BISSAU ASSUME UMA DAS VICE-PRESIDÊNCIAS DO PARLAMENTO DA CEDEAO

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A Guiné-Bissau assumiu uma das vice-presidencias do parlamento da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) através da deputada do Movimento para Alternância Democrática (MADEM), Adja Satu Camará, durante a legislatura 2020/2024.

Segundo a informação noticiada pela agência lusa esta terça-feira, 10 de março de 2020, a Serra Leoa vai presidir o parlamento daquela organização sub-regional, através do seu deputado, Sidie Mohamed Tunis, eleito na segunda-feira, em Niamey (Níger) no arranque da sessão inaugural da quinta legislatura do parlamento da comunidade. Sidie Mohamed Tunis substitui no cargo o senegalês Moustapha Cissé.

O cargo de presidente do Parlamento é atribuído aos Estados-membros em regime de rotatividade estabelecido por ordem alfabética, explicou, em nota, a CEDEAO.

Na mesma sessão foram eleitos os quatro vice-presidentes do parlamento, onde se inclui a deputada Adja Satu Camará Pinto, da Guiné-Bissau. Para as restantes três vice-presidências foram eleitos Ahmed Idris Wase, da Nigéria, Sani Malam Chaibou, do Níger, e Atcholi Aklesso, do Togo.

A sessão inaugural da nova legislatura do parlamento da CEDEAO decorre até 13 de março, em Niamey, e contou na abertura com a intervenção do Presidente do Níger e presidente em exercício da conferência de chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, Mahamadou Issoufou.

O parlamento da CEDEAO é composto por 115 deputados, distribuídos conforme a população de cada um dos 15 estados-membros. A Guiné-Bissau e Cabo Verde têm cinco representantes cada um.

A Nigéria tem 35 deputados, quase um terço de todos os lugares disponíveis. O Gana com oito lugares e a Costa do Marfim com sete seguem-se como os países mais representados.

Burkina Faso, Guiné-Conacri, Mali, Níger e Senegal têm seis representantes, enquanto o Benim, Gâmbia, Libéria, Serra Leoa e Togo ocupam cinco assentos cada um.

Recorde-se que a deputada Adja Satu Camará do MADEM-G 15, foi eleita em junho de 2019, vice-presidente do parlamento guineense. Antiga militante do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Satu Camará já assumiu funções de ministra do Interior na Guiné-Bissau e é a primeira mulher guineense a ter a patente de major-general.

O Democrata/lusa

Ecomib termina missão de paz na Guiné-Bissau

Soldados da Ecomib da força de interposição da Comunidade Económica dos Estados de África Ocidental (CEDEAO) , 6 de Junho de 2012. ALFA BALDE / AFP
Texto por: Mussá Baldé, Editado por faladepapagaio

Os soldados da Ecomib deixaram de dar segurança às individualidades e instituições guineenses.

A Ecomib, força de interposição da Comunidade Económica dos Estados de África Ocidental (CEDEAO), começou a ser retirada do corpo de escolta do Presidente da Guiné-Bissau, do presidente do parlamento, de Aristides Gomes, do primeiro-ministro demitido, da casa de Domingos Simões Pereira e dos juízes do Supremo Tribunal de Justiça. A ordem é de Umaro Sissoco Embalo, Presidente da Republica da Guiné-Bissau, e começou ontem a ser aplicada.

A partir de agora serão os elementos das forças de defesa e segurança guineenses que darão cobertura de segurança à todas as individualidades do Estado.

O general na reserva e ministro da Defesa Nacional, Sandji Fati, disse tratar-se de uma operação normal, uma vez que a Ecomib termina o seu mandato na Guiné-Bissau a 30 deste mês. O ministro guineense da defesa descarta, ainda, qualquer cenário de caça às bruxas em torno da retirada dos contingentes da Ecomib de vários recintos da capital e elogia o papel da força da CEDEAO na estabilizaçao do pais desde 2012.

O general Fati assinalou que não há nenhuma caça às bruxas na Guiné-Bissau e que até os membros do Governo demitido passarão a ter a protecção do corpo de segurança com agentes guineenses.

Em relação à força da Ecomib, o general Fati enalteceu o seu papel ao longo de cerca de oito anos, tendo anunciado que serão homenageados brevemente numa cerimónia pública antes da sua partida definitiva do solo guineense.

A retirada das forças da Ecomib, estacionadas na Guiné-Bissau desde 2012, a seguir a um golpe de Estado na altura, gerou algum pânico. Por agora, muitos sectores afirmaram tratar-se de uma operação com outros fins.

O Ex-primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, denunciou, esta quarta-feira, que a sua residência em Bissau está cercada por militares “fortemente armados”. Numa mensagem dirigida aos guineenses e à comunidade internacional, Aristides Gomes questiona o plano “para silenciar”, que tem denunciado nos últimos dias, “está em execução”.

RFI

ONU ENCORAJA CEDEAO NA RESOLUÇÃO DA CRISE NA GUINÉ-BISSAU 

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, “encoraja a CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] a intensificar o seu envolvimento na Guiné-Bissau para facilitar uma resolução rápida para a controvérsia eleitoral e pôr um ponto final na crise”.

Questionado pelo PÚBLICO sobre os últimos acontecimentos na Guiné Bissau, Guterres respondeu através do porta-voz adjunto, Farhan Haq, dizendo que “registou o cancelamento da missão de especialistas da CEDEAO, que deveria ter chegado a 9 de Março a Bissau para ajudar os esforços da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e o Supremo Tribunal de Justiça para resolver a controvérsia eleitoral”.


O secretário-geral da ONU aproveitou ainda para “incitar todas as partes na Guiné-Bissau a assegurar que o processo legal em curso segue o seu devido curso sem impedimentos e a cooperar com os esforços da CEDEAO para facilitar uma resolução pacífica para a crise”.

António Guterres já tinha pedido a “máxima contenção” às partes, na semana passada, em informação difundida pelo seu porta-voz, Stéphane Dujarric. “O secretário-geral encoraja todas as partes para que aguardem a decisão do Supremo Tribunal de Justiça, tenham máxima contenção e tomem todas as medidas necessárias para prevenir qualquer ato que possa minar a paz e a estabilidade na Guiné-Bissau”, disse.

A profunda crise política que a Guiné-Bissau atravessa deriva da contestação aos resultados da segunda volta das presidenciais, realizadas a 29 de Dezembro. A CNE deu a vitória a Umaro Sissoco Embaló, mas Domingos Simões Pereira, o adversário, líder do PAIGC, partido maioritário no país, contestou os resultados e apresentou um recurso junto do STJ, a mais alta instância judicial.

Sissoco Embaló não quis esperar pela decisão do tribunal, marcou a sua própria tomada de posse num hotel em Bissau, demitiu o Governo de Aristides Gomes – que escreveu uma carta a António Guterres na segunda-feira – e usando os militares ocupou ministérios e nomeou como primeiro-ministro Nuno Nabiam, candidato presidencial derrotado na primeira volta.

Curiosamente, Nabiam é líder de um partido com cinco deputados, a Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), que assinou um acordo de incidência parlamentar que viabilizou o Governo de Aristides Gomes, depois de o PAGC não ter conseguido maioria absoluta nas legislativas de Março do ano passado.

No entanto, Nabiam romperia esse acordo já durante a campanha presidencial, o que teria feito perder a maioria ao PAIGC, mas três dos deputados do seu partido não o seguiram e mantiveram o seu apoio ao Executivo. No passado fim-de-semana, a APU-PDGB, aprovou novamente o fim do acordo com o PAIGC e o apoio a uma nova maioria parlamentar, com o Madem-G15 e o PRS, segundo e terceiro maiores partidos, aparentemente sem conseguir convencer os deputados a apoiar o seu próprio Governo.

Terão provavelmente receio pelo facto de o Governo de Nabiam não ser reconhecido pelas organizações internacionais, desde logo pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. “Profundamente preocupados pela crise pós-eleitoral e institucional”, os membros do Conselho de Segurança apelaram “às partes para respeitarem os marcos legal e constitucional e o processo democrático” e pediu-lhes que “priorizem o diálogo e a resolução pacífica da crise e abster-se de acções e declarações que possam exacerbar ainda mais as tensões”.

Notabanca; 11.03.2020

Publicada por notabanca à(s) 07:25

Amílcar Cabral declarado segundo maior líder mundial de sempre pela BBC

Bissau, 10 mar 20 (ANG) – O ideólogo das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, Amílcar Cabral, foi considerado o segundo maior líder mundial de todos os tempos, numa lista elaborada por historiadores para a BBC.

A lista é da “BBC World Histories Magazine” e foi feita por historiadores, que nomearam aquele que consideraram o maior líder, alguém que exerceu poder e teve um impacto positivo na humanidade.

Num trabalho que começou no início do ano, a revista contou com a colaboração dos mais destacados historiadores e a votação de leitores, que escolheram como o maior líder de sempre Maharaja Ranjit Singh, líder do império sikh do início do século XIX.

Maharaja Ranjit Singh foi considerado um modernizador e unificador, com um reinado que marcou uma era muito positiva para o Punjab e o noroeste da Índia. Teve mais de 38% dos votos.

E logo a seguir, com 25% dos votos, aparece Amílcar Cabral, descrito como o “combatente pela independência africana”, que reuniu mais de um milhão de guineenses para se libertarem da ocupação portuguesa, uma acção que levou outros países africanos colonizados a lutarem pela independência.

Depois de Amílcar Cabral, surge na lista o britânico Winston Churchill, com 07% dos votos, e em quarto lugar o Presidente americano Abraham Lincoln, seguindo-se na quinta posição a monarca britânica Elisabeth I.

A lista incluía o faraó AmenhotepIII, o rei inglês William III, o imperador da China Wu Zetian, a combatente francesa Joana d’Arc, o imperador do Mali Mansa Musa, a imperatriz russa Catarina, a Grande, ou o Papa Inocêncio III, entre uma vintena de nomes.

Amílcar Cabral foi escolhido pelo historiador britânico Hakim Adi, especialista em assuntos africanos, segundo o qual a luta de Amílcar Cabral pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde também transformou Portugal.

Professor de História de África e de Diáspora Africana na Universidade britânica de Chichester, Hakim Adi lembra, ao justificar a escolha de Amílcar Cabral, que grande parte dos países africanos alcançou a independência no início dos anos 1960, o que não aconteceu com as então colónias portuguesas.

E diz depois que “o grande Amílcar Cabral” além da luta pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde também teve um papel de liderança na libertação de outras colónias portuguesas. E essas lutas armadas acabaram por resultar numa revolução em Portugal “e no início de uma nova era democrática” no país.

“Muitos africanos continuam a ser inspirados pela grande liderança de Cabral. A sua vida e trabalho mostram que, quaisquer que sejam os obstáculos, as pessoas são capazes de ser os seus próprios libertadores”, diz o historiador.

Entre os historiadores convidados que escolheram os “seus” líderes contam-se o professor de História e cientista político especializado em história da China da Universidade de Oxford, Rana Mitter, a professora e historiadora da Universidade de Toronto, Margaret MacMillan, ou o historiador e director do Smithsonian’s National Museum of African Art em Washington, Gus Casely-Hayford.

Nascido na Guiné-Bissau a 12 de Setembro de 1924, filho de cabo-verdianos, Amílcar Cabral fundou o Partido Africano da Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC), lançando as bases do movimento que levaria à independência das duas antigas colónias portuguesas.

O fundador do PAIGC foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973, em Conakry, em circunstâncias ainda hoje não totalmente claras, antes de ver os dois países tornarem-se independentes. ANG/Angop

Guiné-Bissau: Novo golpe de Estado?

FONTE: LE MONDE DIPLOMATIQUE/BRASIL

POR: Maria do Carmo Rebouças dos Santos

Não obstante sua luta pela libertação nacional ser reconhecida – não com o status que mereceria – como a mais bem sucedida guerra pela descolonização africana e Amílcar Cabral figurar como uma das grandes personalidades do século XX, a Guiné-Bissau, pequeno país situado na costa Ocidental africana, ainda continua a lutar para ser sujeito da sua própria história.

O ano começou em meio a uma crise institucional por suspeitas de fraude no processo eleitoral para presidência da República. Desde a libertação conquistada em 1973 até a atualidade, o país passou por curtos períodos de estabilidade política.

Uma década de guerra pela independência da colonização portuguesa, uma prolongada instabilidade que se refletiu em golpes de Estado, uma guerra civil em 1998, o assassinato do presidente da República em 2009, acompanhado de várias tensões políticas causadas pelos militares, pelo narcotráfico e pela “etnificação” da política que culminou no último golpe de Estado de abril de 2012. Após ser administrado por um governo de transição sob o escrutínio da comunidade internacional, somente em 2014 o país conseguiu realizar eleições democráticas.

É com esse pano de fundo que a Guiné-Bissau chegou ao século XXI, com uma Missão para a Consolidação da Paz da ONU instalada no país, baixo desenvolvimento relativo e alta dependência da ajuda externa, reforçada pelas representações negativas de pobreza, fragilidade democrática e institucional e narcotização imputadas por instituições internacionais como Banco Mundial, FMI e ONU, somado ao fato de não possuir riquezas minerais e ainda colocar em risco a segurança dos países do Norte1.

Processo eleitoral

O último episódio dessa longeva instabilidade política foi o processo eleitoral de 2019. Sendo um país semipresidencialista, na Guiné-Bissau as eleições são para a escolha de presidente da República – chefe de Estado – e parlamentares que indicam o primeiro ministro – chefe de governo.

As eleições ocorreram em momentos distintos. Em março de 2019 foram realizadas as eleições para o Assembleia Nacional Popular (ANP). Com maioria formada a partir da aliança representada pelo Partido Africano para a Independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC), que indicou para chefia de governo do presidente em exercício, José Mario Vaz, o deputado Aristides Gomes.

As eleições para presidente ocorreram em dois turnos em 2019: o primeiro em 24 de novembro e o segundo em 29 de dezembro e contou com a participação de observadores internacionais no último turno.

Na reta final, as eleições estavam para ser definidas entre dois candidatos: Domingos Simões Pereira, do PAIGC e Umaro Sissoco Embaló do Movimento para a Alternância Democrática (MADEM G15), partido formado por dissidentes do PAIGC, este último apoiado pelo ex-presidente José Mário Vaz e por vários outros candidatos, todos perdedores do páreo eleitoral do primeiro turno.

O resultado provisório do segundo turno proclamado, mas não publicado, pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), em 1 de janeiro de 2020, indicava a vitória de Umaro Sissoco Embaló com 53,55% dos votos contra 46,45% 2. para Domingos Simões Pereira.

Caos político

Desde que foi anunciado o resultado provisório Guiné-Bissau está imersa em um caos político representado pela impugnação judicial das eleições em 3 de janeiro pelo candidato Domingos Simões Pereira, que denunciou fraude no processo eleitoral e que resultou, em 11 de janeiro, na suspensão do processo eleitoral determinada pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ)3.

A situação se agravou com a decisão do suposto vencedor, candidato Embaló de ser investido no cargo de presidente em 27 de fevereiro com o resultado da eleição ainda sub judice e contrariando preceitos constitucionais que determinam que a posse seja dada pela Assembleia Nacional Popular. Tal ato ocorreu em um hotel da capital e contou com a participação do segundo vice-presidente da Assembleia Nacional Popular4, deputado Nuno Nabian que, sem base legal lhe deu posse e do presidente da República José Mário Vaz que lhe transferiu o cargo.

Como seu primeiro ato, em 28 de fevereiro, Embaló assinou o Decreto Nº 01/2020 demitindo o governo de Aristides Gomes tendo como justificativa a suposta atuação inapropriada por denunciar a posse junto a comunidade internacional como golpe de Estado. Com o Decreto Nº 02/2020, na mesma data, nomeou Nuno Gomes Nabian como Primeiro-Ministro.

A Assembleia Nacional Popular e o gabinete do Primeiro-Ministro não reconheceram a posse e, em razão da vacância do cargo de presidente, em 28 de fevereiro, como determina o art. 71 da Constituição do país deram posse como presidente interino ao presidente da ANP, deputado Cipriano Cassamá do PAIGC.

Em meio a diversas denúncias de lideranças políticas, da Assembleia Nacional, dos Tribunais de Justiça e da imprensa, além da intervenção das Forças Armadas em apoio a Umaro Sissoco Embaló, o presidente interino renunciou, em 29 de fevereiro 5. Também houve com ocupação de prédios públicos, invasão de residência de políticos, invasão da ANP, CNE e STJ.

A partir dos últimos acontecimentos, os partidos que conformam a maioria parlamentar da ANP, o primeiro-ministro Aristides Gomes, lideranças políticas, assim como o PAIGC passaram a denunciar um golpe de Estado perpetrado pelo candidato Embaló com o apoio militar das Forças Armadas.

O candidato Sissoco e membros de seu governo defenderam a legalidade da posse e as Forças Armadas negaram estar à frente de um golpe de Estado.

Neste cenário, que não é novo em Guiné-Bissau, exceto pelo tipo, a comunidade internacional representada pelo Grupo P5 – constituído pelas Nações Unidas, União Africana, Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, União Europeia e Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – teve uma posição ambígua que, inclusive, segundo várias lideranças do país, potencializou a crise.

Em primeiro momento validou o processo eleitoral como transparente e dentro dos padrões internacionais e congratulou o suposto candidato vencedor quando do anúncio do resultado provisório. E já nos últimos dias, diante das reações no país e de acusações de interferência nos assuntos internos e pela atuação das Forças Armadas, tem se posicionado com cautela no sentido de aguardar o posicionamento do STJ e de exortar as Forças Armadas a se absterem de intervir6.

Até o momento, o STJ – órgão competente para a resolução do litígio eleitoral – não decidiu o recurso interposto pelo candidato Pereira, tampouco se pronunciou sobre a posse do candidato Embaló, que continua a atuar como se presidente fosse. Segundo comunicado difundido no dia 3 de março, a sede do STJ está ocupada por membros das Forças Armadas desde o dia 28 de fevereiro e seus membros impedidos de realizarem a judicatura.

Convém lembrar que a crise atual é tributária de todos os processos de ruptura da ordem democrática que vem acontecendo no país desde a independência.

A investidura no cargo do candidato Embaló enquanto pendia uma decisão judicial sobre a sua legalidade e posteriormente a indicação pelo suposto presidente de um chefe de governo, contando com a participação do ex-presidente Vaz e apoio das Forças Armadas são mais um episódio desse novo tipo de atuação política em Guiné-Bissau.

Sem entrar no mérito dos fatos que levaram o PAIGC a impugnar o processo eleitoral, em um contexto de normalidade democrática e constitucional, aguardar a decisão judicial, se a mesma suspendeu a conclusão do processo eleitoral, e mantida a neutralidade das Forças Armadas, era o único caminho que asseguraria legalidade do pleito e a legitimidade da posse do vencedor, fosse ele quem fosse. Essa inclusive tem sido a posição da comunidade internacional.

Essas rupturas ferem a constituição guineense e podem sinalizar para a concretização de um golpe de Estado que ignora as regras do jogo democrático e do império das leis para levar ao palácio presidencial um candidato cuja vitória ainda não foi confirmada pelo órgão que teria competência para tanto.

O que está em causa hoje em Guiné-Bissau é o cumprimento das exigências para a existência plena de um Estado democrático de direito no país que nunca viveu sob as bases mínimas de uma real democracia 7, exceto no período de guerra nas Zonas de Libertação.

Não é demais lembrar que Cabral alertava para o risco da recolonização de Guiné-Bissau após a independência pela cumplicidade de sua elite que poderia se transformar em uma pseudo-burguesia nacional.

Sem querer minimizar a responsabilidade de atores externos para as instabilidades vividas no país na últimas décadas, desde o golpe reajustador de 1980, grande parte da elite política e militar de Guiné-Bissau que de uma maneira ou de outra alternam e hegemonizam o controle político do país perdeu a consciência revolucionária ou, nas palavras de Cabral, negou-se a se suicidar enquanto classe e traiu os ideais de libertação do período das lutas anticoloniais.

Como diria Amílcar Cabral, a luta pela reconquista da personalidade histórica de um povo perpassa por sua coragem de assumir o protagonismo de sua história. Na crise atual é imperativo que a elite política e militar do país, em unidade, construam soluções baseadas em suas próprias institucionalidades.

Não há saída que não seja por meio das vias democráticas e legais escolhidas pelo povo guineense quando decidiu aderir a democracia e viver sob a égide do Estado de direito.

De outra forma, veremos se iniciar um novo ciclo de Estado de exceção no país que pode ensejar uma longa intervenção militar – que poderá escalar para uma ditadura ou mesmo uma guerra civil –, ou ainda uma longa intervenção internacional ou talvez pior, uma excepcionalidade constitucional normalizada, como já estamos vendo em Bissau e em algumas partes do mundo.

Maria do Carmo Rebouças dos Santos é doutora em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela Universidade de Brasília. Professora de Direito da Universidade Federal do Sul da Bahia. Autora do livro Guiné-Bissau da independência colonial à dependência da cooperação internacional para o desenvolvimento. Pesquisadora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau. Possui longa experiência na área internacional do desenvolvimento e dos direitos humanos tendo coordenado diversos projetos de cooperação Sul-Sul em direitos humanos entre Brasil, a África e a América Latina e atuado como advogada da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, em Washington DC.