Após eleição sem sobressaltos na Guiné-Bissau, resultados provisórios só na terça-feira

Porta-voz da Comissão Nacional de Eleições saudou o civismo demonstrado pela população. Urnas fecharam às 17.00 e 761 mil eleitores estavam chamados a votar nas legislativas.

As urnas eleitorais encerraram às 17:00 na Guiné-Bissau e a Comissão Nacional de Eleições (CNE) promete para segunda-feira, às 12:00, um primeiro balanço da votação para as legislativas que globalmente disse ter decorrido sem sobressaltos.

A porta-voz da CNE, Felisberta Vaz, disse à Lusa que os resultados oficiais provisórios serão conhecidos na terça-feira.

A responsável lembrou que a lei impede a qualquer outra entidade a divulgação dos resultados, parciais ou totais e que apenas a CNE tem aquela competência.

Felisberta Vaz saudou o civismo demonstrado pela população guineense, elogiou a atuação das forças de segurança, mas apelou a que reforcem vigilância contra viaturas não autorizadas que estão a circular pelo país, como determina a lei em dias de eleições.

Uma outra fronte da CNE confirmou o encerramento das urnas às 17:00, salvo nas mesas onde ainda existiam eleitores para votar.

Cerca de 761 mil eleitores foram chamados hoje às urnas em mais de três mil mesas de voto espalhadas pelo território nacional e diáspora.

O dia das eleições ficou marcado pelas queixas de muito guineenses, que possuíam cartão de eleitor, mas não tinham o seu nome nos cadernos eleitorais, feitos a partir de uma base informatizada.

Este erro técnico já fora detetado, mas os partidos que compõem o plenário da CNE decidiram circunscrever o universo eleitoral aos cadernos informatizados, uma situação que afastou muitos guineenses do processo.

Apesar deste e de outros problemas, com mesas que não abriram e alguma descoordenação da distribuição dos meios, todos os partidos e atores políticos consideram que as eleições estão a ser um sucesso.

O ato eleitoral está a decorrer com normalidade, “sem mortes, sem espancamento, sem golpes de Estado, sem prisões arbitrárias, sem prisioneiros políticos, e com liberdade de expressão, de manifestação e imprensa”, afirmou o Presidente, José Mário Vaz, que considerou o país um “campeão da liberdade”.

As eleições legislativas foram impostas pela comunidade internacional após uma longa crise política, criada após a demissão do primeiro-ministro em 2015, Domingos Simões Pereira, apesar de o seu partido – Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC) – ter a maioria absoluta.

Entre os 21 partidos candidatos, três dizem esperar governar: o PAIGC, o Partido da Renovação Social (PRS) e o Movimento para a Alternância Democrária (Madem), este último criado a partir de uma dissidência dentro da maior formação partidária do país.

As eleições acontecem também um dia depois de ter sido feita a maior apreensão de droga no país – 789 quilos de cocaína – um sinal de que o país continua a ter problemas com o tráfico internacional.

A Guiné-Bissau chegou mesmo a ser considerada um narco-estado, que recebia toneladas de droga da América Latina que se destinava à Europa.

A droga seguia num camião, escondida num fundo falso, em vários sacos de 30 quilos, em pacotes pretos, e a rede de traficantes integrava elementos associados à al-Qaida do Magrebe Islâmico.

“A grande luta [do país] é exatamente contra o surto da droga. Por isso, para mim foi uma grande satisfação quando ontem tive conhecimento que aconteceu isso na Guiné-Bissau”, disse José Mário Vaz, questionado pela Lusa sobre a operação policial.


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HISTÓRIA DE GUMBÉ

A música da Guiné-Bissau é normalmente associada com género poli-rítmico denominado de “gumbé,” que constitui a primeira exportação musical do país.

A calabaça ou simplesmente “cabaz” foi um dos primeiros instrumentos musicais da Guiné-Bissau e é usado de uma forma extremamente rápida, produzindo sons que também provocam complexas danças, sejam elas tradicionais ou modernas.

O grande denominador de estilo Gumbé são as canções, muitas delas cantadas em Crioulo e revolvendo à volta de temas tais como a sociedade, as relações humanas e amorosas, a amizade, as controvérsias e muito recentemente noutros tópicos, nomeadamente o Sida e as questões políticas e da estabilidade do país.

A palavra “Gumbé” é sempre usada genericamente, albergando quase todos os estilos musicais da Guiné-Bissau. Todavia, o estilo “Gumbé” tem juntado mais de uma dezena de géneros musicais — conhecidos como músicas folclóricas ou tradicionais. Alguns exemplos destes estilos são: Tina, Tinga, Brocxa, Kussundé (da etnia Balanta), Djambadon (Mandinga), e Kunderé (Bijagós). Muito embora alguns destes estilos sejam apropriados para rituais, cerimónias tradicionais e fúnebres, a pouco e pouco eles estão sendo incorporados na música contemporânea de Gumbé.

Outro elemento relevante quando se fala da música da Guiné é a união que ela incentiva entre guineenses de diversas etnias e religiões. Este é o caso do fenómeno de “mandjuandades”. Como aliás escreveu Maria Manuela Abreu Borges Domingues na sua dissertação ESTRATÉGIAS FEMININAS ENTRE AS BIDEIRAS DE BISSAU, “a prevalência das associações pluri-étnicas indicia a índole iminentemente urbana das mandjuandades de Bissau, onde a coabitação das diversas culturas acabou por originar formas de expressão e solidariedades sociais específicas, fruto das comuns condições de existência material e vivências quotidianas”. Aliás tem sido a maior característica da música Gumbé em suas diversas formas.

Independente desde 1973 (e reconhecida um ano mais tarde pela administração colonial portuguesa), Guiné-Bissau não tem sofrido influências musicais significantes de Portugal (fado), contrariamente daquilo que aconteceu em países como Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde.

No entanto, a existência de Gumbé só veio à luz do dia depois de 1973, quando Ernesto Dabó produziu em Lisboa o tema “M’Ba Bolama”. Diz-se que a produção desta música ocorreu sob à alçada de Zé Carlos, também o responsável pela formação de uma das mais populares bandas musicais na Guiné-Bissau, Cobiana Djazz. Estávamos em 1972.

Quase uma década depois, viveu-se a “era” de Super Mama Djombo, cujo primeiro trabalho estreiou-se em 1980 com o álbum “Cambança”, tremendamente popular por todo o país.

A história conta-nos de que os primeiros grupos musicais da Guiné-Bissau tais como a Africa Livre, o Chifre Preto e a Kapa Negra tinham relações “tensas” com o poder político dessa altura.

Nas mesmas circunstâncias esteve o histórico Zé Carlos, considerado um crítico do poder colonial e da administração pós-independência. O cantor acabou por morrer num acidente de aviação em Havana, Cuba e até à esta data persistem rumores segundo os quais houve uma conspiração para eliminar fisicamente o músico devido ao conteúdo político das suas canções.

Mais tarde, a orquestra Super Mama Djambo embora tenha suportado o partido no poder, o PAIGC, também sempre criticou aquilo que apelidou de “nepotismo” e “corrupção” dos governantes.

E nos finais de 1980s, estilos Kussundé começaram a ganhar alguma popularidade no país, liderado por Kaba Mané, cujo álbum “Chefo Mae Mae” combinou as forças da guitarra eléctrica com as melodias e ritmos balantas. Na mesma linha de actuação surgiram cantores tais como Ramiro Naka e Tchando que muito contribuiram para a “exportação” da música guineense além das fronteiras.

Mas, em abono de verdade, o poder político sempre esteve preocupado com as mensagens dos artistas guineenses. Um exemplo clássico foi a prossecução do cantor Zé Manel depois do lançamento de “Tustumunhus di aonti” (Os Testumunhos de Ontem) em 1983, cujas letras foram escritas maioritariamente por Huco Monteiro, também ele escritor e poeta.

Hoje são muitos os que têm contribuído para a “evolução” de Gumbé, incluindo artistas tais como Sidónio Pais, Justino Delgado, Manecas Costa, o grupo Tabanka Djaz, Rui Sangará, Dulce Neves, Nené Tuty, Buka Pussick, Maio Copé, entre tantas outras figuras de relevo.

Mais como o Gumbé vai ganhando contornos internacionais, os artistas, músicos, compositores e produtores nacionais vão pesquisando as formas de “incorporar” as tradições musicais da Guiné-Bissau nas novas produções. Exemplos destes esforços são os álbuns “Mom na Mom”, produzido por Juca Delgado; “Paraíso di Gumbé” de Manecas Costas; “Badjapucen” de Silvestre Gomes; o agrupamento «Netos di Gumbé» e os recentes trabalhos de Nino Galissa e de Eneida Marta. E falando da Eneida, ela tem uma das mais belas vozes africanas da actualidade, misturando ritmos de Gumbé com a Morna de Cabo Verde ou o Singa, cantando nas línguas Mandinga, Fula, Crioulo, Futa-fula e Português. O álbum “Lope Kai” exemplifica este esforço.

Outros contributos para o enriquecimento da cultura e música Gumbé devem-se à nova geração dos cantores guineenses que, abraçando o estilo original de Gumbé, vão-se ajustando aos tempos modernos…e daí que muitos têm adicionado o sabor do “rap” aos sons do “nosso” Gumbé.
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DEFINIÇÃO DO ESTILO GUMBÉ
Definição: gumbé é o estilo de música urbana guineense/africana. Melodia que acompanha os poemas dos djidiu nascida da fusão da música crioula ” Badjo Di Sala ” com a música nativa. O gumbé surgiu no princípio da segunda grande guerra; associação multicultural de jovens (várias etnias e religiões), com fins de recreação e interajuda (Skinner, 1978; 199).

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Guiné-Bissau vai propor Carnaval e Dança de Tina para Património Imaterial da Humanidade

Os processos para as duas candidaturas à Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura já estão em andamento, tendo o Governo solicitado assistência de peritos internacionais.

O diretor-geral da Cultura da Guiné-Bissau, Cornélio da Silva, anunciou que o país vai propor à UNESCO a classificação do Carnaval do país e da tradicional Dança da Tina como Património Imaterial da Humanidade.

Os processos, em separado, para as duas candidaturas à Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), já estão em andamento, tendo o Governo solicitado assistência de peritos internacionais, disse Cornélio da Silva.

O diretor-geral da Cultura guineense considerou que o Carnaval do país “é dos melhores do mundo”, dado o seu potencial, diversidade, originalidade e riqueza, nos domínios da dança, música, trajes e a língua crioula. A maior festa popular na Guiné-Bissau decorrerá este ano entre 02 e 05 de março, devendo o Governo organizar um concurso a nível nacional com os três primeiros grupos destacados a serem premiados.

A equipa de peritos internacionais vai iniciar os trabalhos com a realização de um inventário comunitário, para saber junto das comunidades que celebram o Carnaval, quais os artefactos que entram naquela manifestação cultural, indicou Cornélio da Silva, para quem este será “um dos grandes desafios” para 2019. O mesmo passo será seguido em relação à dança e música da Tina, um conhecido género cultural da Guiné-Bissau.

A Tina é uma dança original guineense, cuja música é produzida através de um tanque cortado ao meio ou um enorme alguidar, com água. Normalmente, o toque da tina ou a sua dança é associado às manifestações culturais entre mulheres. “Queremos fazer da nossa Tina como Portugal fez com o Fado”, declarou o diretor-geral da Cultura guineense, ao explicar os motivos para uma candidatura, junto da UNESCO, para património imaterial da humanidade.

Como outros dos projetos culturais para 2019, Cornélio da Silva apontou a realização da quarta conferência da Cultura da qual sairá a carta da política nacional do setor, propondo medidas, metas e propostas de legislações. Cornélio da Silva está confiante numa “grande projeção” do setor cultural guineense em 2019, com a entrada em vigor de um projeto financiado pela União Europeia, visando a criação de emprego na cultura, através de várias iniciativas de formação aos agentes culturais do país. Apesar das dificuldades derivadas do ambiente político, o setor da cultura “deu passos significativos em 2018”, notou o diretor-geral da Cultura guineense.

Agência Lusa