CEDEAO UNIÃO AFRICANA CPLP E ONU REALIZAM MISSÃO CONJUNTA EM BISSAU


Uma missão de alto nível da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, Nações Unidas, União Africana e Comunidade dos Países de Língua Portuguesa chega domingo à Guiné-Bissau para avaliar os preparativos para as eleições presidenciais.
“Amissão tem por objetivo, entre outros, inteirar-se dos preparativos para as eleições presidenciais, marcadas para 24 de novembro”, refere uma nota divulgado hoje à imprensa pela CEDEAO.
Durante a sua estada em Bissau, que termina segunda-feira, a missão vai reunir-se com as autoridades políticas guineenses, partidos políticos e candidatos às eleições presidenciais.
Na última missão que realizou à Guiné-Bissau, a 10 de setembro, a CEDEAO salientou que o atual Governo deve permanecer em funções até que sejam realizadas eleições presidenciais, de acordo com as decisões da última cimeira de chefes de Estado e de Governo da organização, e insistiu na manutenção dos cadernos eleitorais utilizados nas legislativas de março.
A Guiné-Bissau realiza eleições presidenciais a 24 de novembro, e a segunda volta, caso haja necessidade, vai decorrer a 29 de dezembro.
O Supremo Tribunal de Justiça deverá anunciar a 15 de outubro a lista definitiva dos candidatos às presidenciais. 
Notabanca; 05.10.2019

Diretora executiva da ONG Voz de Paz: “ABERTURA AO MULTIPARTIDARISMO NÃO É RESPONSÁVEL PELA SITUAÇÃO ATUAL DO PAÍS”

05/10/2019 / OdemocrataGB / No comments

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[ENTREVISTA_Setembro_2019] A Diretora Executiva da Organização Não Governamental – Voz de Paz, uma organização que trabalha na promoção da paz na Guiné-Bissau, Udé Fati, negou que o multipartidarismo seja o responsável pela atual situação política em que se encontra o país e diz que os homens guineenses é que perderam o sentido ou a direção orientadora do pai fundador da nacionalidade guineense Amílcar Cabral, que considera de um pensador e orientador de caráter, de valor e de unidade nacional.

Em entrevista exclusiva ao semanário  O Democrata para falar dos 46 anos da independência, Udé Fati disse que a expetativa do povo guineense para o pós independência era muito grande, porque a preocupação de formar um homem de caráter, que pensa na unidade e justiça, imbuído dos valores para ser referência   era um dos pontos fortes a data da independência que justificava o esforço do pós independência para a construção de um Estado, de uma economia nacional, pensando no bem-estar da coletividade.

“Na verdade, a nossa geração pôs luta de libertação nacional assistiu com um pouco de orgulho de um país que lutou para conquistar a independência para ser dono do seu destino. Enquanto filha de um antigo combatente senti essa vontade. Aliás, toda a minha infância passei-a como pioneira e quando um combatente falava da luta de libertação, via-se claramente na sua cara o brilho de orgulho de um homem trabalhador e de consciência clara do que era trabalhar para o bem da coletividade”, detalhou.

Em análise da atual situação política, lembrou que as ideais que conduziram a luta eram claras, ou seja, a de um país tornar-se dono do seu próprio destino a fim de caminhar para uma vida melhor, respeitando sempre o bem comum num quadro de ver a África como um continente único, onde não deveria existir correntes separatistas, sem perder a expressão da sua cultura que era kmal maior para os colonialistas que tentavam tirar as pessoas das suas crenças para levá-las para outra realidade, sobretudo a europeia. Mas graças à determinação, na altura, dos movimentos de libertação criou-se uma ruptura com essa ideia que estava a ser implantada pelos colonialistas, mostrando-lhes que os africanos são um povo rico e civilizado.

Udé Fati foi bastante crîtico a opressores (colonialistas portugueses), porque, segundo disse, eram muito violentos, não só na pressão de força que exerciam sobre os trabalhadores (o povo guineense) como também não davam oportunidades às pessoas para irem à escola. A taxa de analfabetismo rondava os 99 por cento, uma situação que só mais tarde, com o surgimento de movimentos independentistas que começaram a criar políticas reformistas, que deu oportunidades aos camponeses e ao abrirem escolas.

PRESIDENTE DA RENAJ: “JOVENS TÊM PAPEL PREPONDERANTE NO CENÁRIO POLÍTICO E SOCIAL DO PAÍS”

Convidado a falar sobre os 46 anos da independência do país, o presidente da Rede das Associações juvenis (RENAJ), Seco Duarte Nhaga, defendeu que os jovens guineenses têm um papel preponderante na tomada de decisões do cenário político, econômico e social do país porque representam mais de 60 por cento da população guineense.

Dados das últimas eleições legislativas no país apontam que 60 por cento dos eleitores que participaram no processo eram de jovens dos 18 aos 35 anos, mostrando como os jovens dispõem de força no paísque, se fosse aproveitado, bem poderia dar respostas aos desafios do desenvolvimento da Guiné-Bissau. Na sua observação, os jovens devem adotar uma postura diferente daquela que têm assumido até aqui, o que, segundo Seco Duarte N´haga, passa necessariamente por mostrar o interesse, compreendendo que o seu papel no cenário político ultrapassa fixar cartazes dos partidos políticos e ficar horas e horas nas plataformas ou em comícios populares oua a acompanhar os candidatos para irem depositar as candidaturas em troco de dois mil francos CFA.

 “O problema da Guiné-Bissau são as promessas, toda a gente está com ânsia do desenvolvimento, mas se não conseguirmos a estabilidade política, dificilmente poderemos ter um ensino de qualidade, ou uma saúde que responda às demandas da população e muito menos emprego para jovens. Por isso, a juventude deve ser capaz de impor a sua voz e ser ativa, participando não como mero instrumento  dos partidos políticos para alcançar o poder, mas, sim, ser capaz de ser protagonista de cenários políticos, representando-se de forma significativa nos órgãos decisores, quer dos partidos políticos quer das instituições públicas”, alertou.

O líder juvenil informou, no entanto, que enquanto jovenm almejava ver a Guiné-Bissau, depois de 46 de independência, um país diferente, orientado para estar num patamar dos países em via de desenvolvimento em que os jovens pudessem sonhar com progresso na vida, prosperidade e paz social, para que todos os cidadãos possam realizar os seus sonhos-

“Infelizmente, é um país subdesenvolvido em que a aspiração do povo está em torno das necessidades do progresso do país”, lamentou Seco Duarte Nhaga.

Por: Aguinaldo Ampa

PR reage ao caso do cidadão de Guiné-Bissau detido na fronteira e exige “investigação séria” para apuramento dos factos

São Filipe, 04 Out (Inforpress) – O Presidente da República reagiu hoje, na cidade de São Filipe, sobre o caso do cidadão de Guiné-Bissau detido na fronteira do aeroporto Nelson Mandela, exigindo uma investigação séria, objectiva e rigorosa para apuramento dos factos.

Jorge Carlos Fonseca, que se encontra de visita à ilha do Fogo, disse que tomou conhecimento deste caso através da comunicação social e que pelos relatos e pelo teor das denuncias e das reações tidas, trata-se de uma questão que não deve deixar de lhe preocupar, já que ele é o primeiro responsável pelo funcionamento normal das instituições de democracia e pela afirmação da Constituição, dos seus valores e das suas regras.

“A partir desta denuncia, sobretudo porque não é um caso ímpar e tem havido outros casos de denuncia de eventuais violações de direitos fundamentais nas esquadras policiais e nas fronteiras do país e mais recentemente de uma jovem na esquadra de Santa Catarina, deve haver um apuramento rigoroso, objectivo e sério dos factos para que saibamos o que se passou, como se passaram, de facto, para se poder tirar conclusões fundamentadas e apurar eventuais responsáveis”, disse o chefe de Estado.

Na qualidade de PR espera que a investigação seja feita “em tempo razoável, com objectividade” na verificação dos acontecimentos e, sobretudo, que os resultados sejam tornados públicos “para que todos conheçam os resultados.

A Policia Nacional, referiu o PR, é uma instituição que em Cabo Verde merece credibilidade geral dos cidadãos e desempenha um papel fundamental no Estado de direito democrático, mas havendo casos de violação grave dos deveres, regras ou de regulamento, os factos devem ser investigados e apurar eventuais responsabilidades, porque, indicou “é importante a imagem e credibilidade do país”.

O chefe de Estado salientou que qualquer suspeição ou mancha na reputação das instituições cabo-verdianas traduz e transmite para o próprio Estado, observando que o mais importante é ter orgulho da democracia que é bem avaliada pelos cabo-verdianos, instituições internacionais e pelos parceiros, razão porque todos têm de trabalhar e zelar para que os princípios, valores, regras da Constituição sejam respeitados.

No dizer de Jorge Carlos Fonseca, “os factos, assim como relatados, se forem verídicos, seria grave, inaceitável e inadmissível em Cabo Verde”, indicando que isso e em qualquer circunstância não pode levar a exercícios de autoflagelação colectiva.

“O meu papel é de carregar uma ambição de corrigir os erros e as falhas, punir se tivermos de punir e responsabilizar se tivermos de responsabilizar, de forma que tenhamos sempre progresso da democracia e da cultura da Constituição”, salientou o PR, assegurando que vai esperar pelo resultado da investigação, cujo resultado será publico para que Cabo Verde continua a ser um país de liberdade, democracia, Estado de direito.

Jorge Carlos Fonseca disse que no dialogo que vai estabelecer com o Governo, nomeadamente com o primeiro-ministro, que também se encontra na ilha do Fogo, este caso como os outros serão analisados para que sejam devidamente esclarecidos, inteiramente investigados e que todos possam conhecer o resultado.

JR/CP

Inforpress/Fim

São Filipe, 04 Out (Inforpress) – O Presidente da República reagiu hoje, na cidade de São Filipe, sobre o caso do cidadão de Guiné-Bissau detido na fronteira do aeroporto Nelson Mandela, exigindo uma investigação séria, objectiva e rigorosa para apuramento dos factos.

Jorge Carlos Fonseca, que se encontra de visita à ilha do Fogo, disse que tomou conhecimento deste caso através da comunicação social e que pelos relatos e pelo teor das denuncias e das reações tidas, trata-se de uma questão que não deve deixar de lhe preocupar, já que ele é o primeiro responsável pelo funcionamento normal das instituições de democracia e pela afirmação da Constituição, dos seus valores e das suas regras.

“A partir desta denuncia, sobretudo porque não é um caso ímpar e tem havido outros casos de denuncia de eventuais violações de direitos fundamentais nas esquadras policiais e nas fronteiras do país e mais recentemente de uma jovem na esquadra de Santa Catarina, deve haver um apuramento rigoroso, objectivo e sério dos factos para que saibamos o que se passou, como se passaram, de facto, para se poder tirar conclusões fundamentadas e apurar eventuais responsáveis”, disse o chefe de Estado.

Na qualidade de PR espera que a investigação seja feita “em tempo razoável, com objectividade” na verificação dos acontecimentos e, sobretudo, que os resultados sejam tornados públicos “para que todos conheçam os resultados.

A Policia Nacional, referiu o PR, é uma instituição que em Cabo Verde merece credibilidade geral dos cidadãos e desempenha um papel fundamental no Estado de direito democrático, mas havendo casos de violação grave dos deveres, regras ou de regulamento, os factos devem ser investigados e apurar eventuais responsabilidades, porque, indicou “é importante a imagem e credibilidade do país”.

O chefe de Estado salientou que qualquer suspeição ou mancha na reputação das instituições cabo-verdianas traduz e transmite para o próprio Estado, observando que o mais importante é ter orgulho da democracia que é bem avaliada pelos cabo-verdianos, instituições internacionais e pelos parceiros, razão porque todos têm de trabalhar e zelar para que os princípios, valores, regras da Constituição sejam respeitados.

No dizer de Jorge Carlos Fonseca, “os factos, assim como relatados, se forem verídicos, seria grave, inaceitável e inadmissível em Cabo Verde”, indicando que isso e em qualquer circunstância não pode levar a exercícios de autoflagelação colectiva.

“O meu papel é de carregar uma ambição de corrigir os erros e as falhas, punir se tivermos de punir e responsabilizar se tivermos de responsabilizar, de forma que tenhamos sempre progresso da democracia e da cultura da Constituição”, salientou o PR, assegurando que vai esperar pelo resultado da investigação, cujo resultado será publico para que Cabo Verde continua a ser um país de liberdade, democracia, Estado de direito.

Jorge Carlos Fonseca disse que no dialogo que vai estabelecer com o Governo, nomeadamente com o primeiro-ministro, que também se encontra na ilha do Fogo, este caso como os outros serão analisados para que sejam devidamente esclarecidos, inteiramente investigados e que todos possam conhecer o resultado.

JR/CP

Inforpress/Fim

OHADA

Presidente em exercício destaca  utilização de três línguas de trabalho na organização
Bissau, 02 Out 19 (ANG) – A Presidente em exercício de Organização para Harmonização dos Direitos de Negócios em Africa (OHADA) enalteceu  terça-feira que a organização que preside funciona actualmente com três línguas oficiais nomeadamente, Francês, Português e Espanhol.

 A Presidente em exercício de OHADA e igualmente a ministra de Justiça e dos Direitos Humanos da Guiné-Bissau, Rute Monteiro falava à margem de 48ª  reunião de Conselho de ministros da OHADA que está a decorrer na capital Bissau de 01 à 02 do Outubro em curso.
“Além da língua francesa que sempre foi a língua oficial de OHADA, também foi implementado recentemente as línguas portuguesa e espanhola como idiomas oficiais da referida organização com o objectivo de facilitar a comunicação no seio da mesma”, informou Rute Monteiro.
Sustentou que com a aprovação de três línguas como as línguas oficiais da OHADA, o direito desta organização vai tornar mais acessível, devido a  facilidade de descodificação das mensagens.
 “Durante a 48ª  reunião de Conselho de Ministros de OHADA vai ser apresentada um livro intitulado OHADA Tratados, Regulamentos e Actos Uniformes. O referido livro é editada em Língua Portuguesa, e esta acção é um passo importante na edição do direito da OHADA na comunidade lusófona”, referiu.
Rute Monteiro disse que a obra acima mencionada vai permitir uma melhoria na aplicação efectiva dos tratados, regulamentos e actos uniformes da OHADA na Guiné-Bissau, e que estão convictos de que o mesmo vai constituir um instrumento útil à todos enquanto instrumento jurídico do Estado de Direito em África.
A Ministra da Justiça informou que a obra foi concretizada graças a colaboração da Faculdade de Direito de Bissau e de Lisboa,  e com apoio  financeiro do Projecto de Reabilitação do Sector Privado e Desenvolvimento Industrial. ANG/AALS/ÂC//SG

EMBAIXADORA DA UE ENTREGA CARTAS CREDENCIAIS AO PRESIDENTE GUINEENSE


A nova Embaixadora da União Europeia (UE) na Guiné-Bissau, efectuou hoje a entrega solene das “Cartas Credenciais” para o início da sua missão no país, ao Presidente da República cessante José Mário Vaz.
A saída do encontro,  Sónia Neto disse à imprensa que a sua missão no país é desenvolver os esforços no sentido de estreitar as boas  relações que existem entre a  União Europeia e a República da Guiné-Bissau.
“O meu principal objectivo na Guiné-Bissau, é de poder contribuir para a normalização e a estabilização da actual situação política, aproveitando no máximo os instrumentos que a “UE” disponibiliza para o desenvolvimento sustentável do país”, assegurou a Diplomata.

Acrescentou que a estabilidade e desenvolvimento, estão intimamente ligados, realçando  que um não pode avançar sem o outro.

“Á União Europeia está bem posicionada para desempenhar o seu reconhecido papel enquanto autor político e de desenvolvimento, no sentido de contribuir para a melhoria das condições de vida do povo guineenses”, sustentou a Embaixadora.

Sónia Neto prometeu ainda trabalhar com os parceiros internacionais que fazem parte do P5, nomeadamente, a CEDAO,  CPLP,  UA, assim como a Organização das Nações Unidas, para juntos contribuírem para que as próximas eleições presidenciais previstas para  24 de Novembro  sejam justas, livres e transparentes.

Aquela responsável destacou ainda que, a agenda da “UE” para o país será baseada numa relação de confiança mútua e de responsabilidades entre as autoridades nacionais e a  União Europeia (EU).

“Um bom exemplo é a aliança África-Europa para os investimentos e empregos sustentáveis, lançada pelo Presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Junker, no sentido de aprofundar as relações económicas e estimular o investimento e o emprego, em prol da propriedade dos dois continentes”, revelou Sónia Neto.

A Chefe de missão da “UE” para a Guiné-Bissau, aproveitou o momento para deixar palavras de apreço às mulheres da Guiné-Bissau, que consideram como pilares essenciais para a consolidação da paz,  na vida social, economia e política do país.

Sónia Neto nasceu em Angola, em 1969, tem nacionalidade Portuguesa, concluiu a sua licenciatura em Ciências Sócias, na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL) em 1995.

Em 2001, foi nomeada Directora do Centro de Apoio aos Partidos políticos para as primeiras eleições livres da Assembleia Constituinte em Timor-Leste e ocupou outras funções  anteriormente em Timor-Leste assim como na União Europeia.

 Notabanca; 01.10.2019

Após 46 anos de independência: JORNALISTA JAPONÊS RECORDA OPRESSÃO DE EXÉRCITO COLONIAL E DESILUDIDO COM “AMBIÇÃO” DOS GUERRILHEIROS

02/10/2019 / OdemocrataGB / No comments

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[ENTREVISTA_setembro 2019] Jornalista freelancer japonês que cobriu a luta armada pela libertação da antiga Guiné Portuguesa nos anos 1971 e 1974, Tadahiro Ogawa, tem ainda na memória as imagens da opressão do exército colonial português, que segundo a sua explanação, semeava minas terrestres que mutilavam as populações bem como lançava bombas aéreas que queimavam as casas e matas. Lembrou ainda que uma das coisas que lhe marcou foi ver soldados mutilados e crianças a aprender a ler e escrever em barracas e sentados em pedaços de troncos.

O jornalista nipónico aproveitou a entrevista concedida ao semanário O Democrata por via telefónica com o propósito de falar sobre as suas reportagens na luta e das suas memórias publicadas em dois livros em três línguas, contudo demostrou-se desiludido com os guerrilheiros de ontem que hoje tornaram-se em dirigentes, mas que segundo ele, dois anos após a independência (1976) esqueceram-se da sua missão de zelar pelo bem-estar do povo e do país e demostraram as suas ambições com condecorações, enquanto o povo se encontrava em miséria total e sem nada para comer.

“O que me desapontou na altura foi que os guerrilheiros trocavam as medalhas ou se condecoravam, enquanto o povo vivia na miséria e nem sequer ter algo para comer. E para mim isso era insustentável  que os governantes tivessem essa ambição de comprar medalhas para os militares e dirigentes em apenas dois anos da independência, sem se preocuparem com a situação de miséria que o povo enfrentava…”, lamentou o jornalista.

Explicou ainda que para além de escrever na altura para algumas revistas japonesas, publicou  dois livros nos quais conta um pouco a história de luta de libertação através de imagens. Acrescentou neste particular que o seu primeiro livro foi intitulado “Nô Pintcha” e foi editado em três línguas no ano de 1971. O segundo livro entitulado “Camarada Independência” publicado em 1976, relatou em imagens a história da luta armada pela independência na Guiné-Bissau, Angola e Moçambique.

O Democrata (OD): Cobriu a história da luta de libertação da antiga Guiné Portuguesa (Guiné-Bissau) e Cabo Verde, enquanto repórter fotografo? 

Tadahiro Ogawa (TO): Sim. Inicialmente a ideia era ir para Moçambique em 1967, onde decorria uma intensa batalha entre as tropas portuguesas e os guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Infelizmente a direção daquele partido demorou a responder a minha carta, na qual pedia a autorização ou a colaboração de forma a poder cobrir a luta armada do povo moçambicano, por isso optei pela Guiné-Bissau que na altura  conhecida como a Guiné Portuguesa.

Enviei uma carta a direção do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) que prontamente reagiu positivamente, permitindo a entrada nas zonas libertadas e cobrir a luta do povo guineense contra os colonialistas portugueses. Eu cheguei a Guiné no mês de Maio, em 1971 por Conacri, capital da Guiné-Conacri.  

OD: Qual foi a sua motivação para cobrir a luta pela independência do povo guineense? 

TO: Eu vim a Guiné como jornalista freelancer (Fotojornalista) e o interesse na altura era fazer chegar o sofrimento do povo guineense por meios de imagens ao mundo. A luta pela libertação em territórios da colónia portuguesa em África não era conhecida no Japão, por exemplo, a luta desencadeada em Moçambique e na Guiné Portuguesa eram desconhecidas no Japão e noutras partes do mundo.

Formado na história e fotojornalista, achei que o meu trabalho poderia ajudar a dar a conhecer o sofrimento destes povos a outras partes do mundo em particular aos países mais poderosos na altura e que poderia  apoiar esses povos em luta nas suas causas e por isso tomei o engajamento de cobrir a luta destes povos. Primeiro pensei cobrir a luta desencadeada pelo povo moçambicano e inclusive fui até a Tanzânia, a fim de entrar naquele país (Moçambique) e ir diretamente à zona da luta para juntar-me aos guerrilheiros, mas não recebi a resposta à  minha carta razão pela qual optei por cobrir a luta armada travada pelos guineenses  contra as forças colonialistas portugueses.

Escrevi ao partido (PAIGC) que aceitou de imediato o meu pedido através de uma carta. Não sei porque reagiram rapidamente a minha carta, mas aceitaram. Talvez tenham percebido na altura a importância do meu trabalho para consciencializar os grandes países sobre a causa do povo da Guiné Portuguesa.

Fiz várias reportagens fotográficas da luta de libertação. Publiquei um livro sobre a história da luta de libertação da Guiné Portuguesa no qual constam imagens que mostram ao mundo o grande sofrimento dos guineenses na luta pela sua independência. O livro intitulado “Nô Pintcha” foi publicado em 1972, no Japão. Foi inscrito em três línguas, nomeadamente: Japonês, Português e Inglês.

Foram impressos mais de 700 exemplares e 50 por cento do livro impresso ficou no Japão e outra metade foi levada para Amsterdã, na Holanda (Europa) onde foi distribuído para outros países e organizações internacionais. Em Amsterdã havia uma sede de uma organização que apoiava a iniciativa da libertação das colónias portuguesas e que na altura exercia muita pressão ao governo português.

OD: Quais são os assuntos abordados no livro e quantas páginas tem o livro?

TO: O livro tem 100 páginas e continha imagens de combates bem como alguns momentos retratados dos combatentes…

OD: Porque é que intitulou o livro “Nô Pintcha – Avante”?

TO: “Nô Pintcha” é a palavra que ouvia sempre dos guerrilheiros quando caminhavam para o combate. Ouvia-se o grito de comandante ou de colega ao lado “Camaradas, Nô Pintcha” e esta expressão ficou na minha cabeça até hoje. Os guerrilheiros caminhavam a pé quilómetros nas matas com armas e munições nos ombros. Isto  marcou-me de certa forma que decidi intitular o meu primeiro livro sobre a luta de libertação da Guiné “Nô Pintcha” – uma homenagem aos guerrilheiros…

OD: Para além de publicação de livros com fotos de guerrilheiros guineenses, quais foram os outros canais que utilizou para a publicação do seu trabalho naquela altura?

TO: Escrevia na altura para várias revistas. E na segunda missão em 1974, trouxe uma máquina de fotografia de 8 mm, com o qual fazia filmagens dos acontecimentos. Lembro-me que fiz um filme documentário de 20 minutos que foi transmitido na televisão pública do Japão. Era difícil naquela altura um jornalista freelancer apresentar o trabalho aos órgãos públicos ou grandes revistas, mas eu conseguia apresentar os meus trabalhos e algumas grandes revistas também pediam-me trabalhos sobre a luta de libertação da Guiné-Bissau.

OD: Qual foi a história contada no vídeo de 20 minutos?

TO: O vídeo mostrava a vida das populações nas zonas libertadas, sobretudo das escolas e a forma como funcionavam os armazéns do povo que era para mim uma experiência particular. Também o vídeo retratou a cerimónia de entrega das credenciais dos embaixadores dos países da Europa de leste, designadamente: Roménia, Bulgária entre outros. O impressionante naquele vídeo é que antes da independência alguns países europeus acreditavam na liderança do partido e credenciavam os diplomatas para trabalharem com o partido.      

OD: O Senhor tem uma longa experiência no mundo da fotografia, o que foi particular durante a sua estadia por esta terra?

TO: Lembro-me que fiz duas viagens à Guiné Portuguesa. A primeira, como disse, foi em 1971, durante a qual fiz um mês nas matas da Guiné. Saí do Japão e passei por Argel (Argélia), depois para a Conacri e segui para a região de Boké, onde havia uma base do partido onde se concentravam as pessoas para depois partirem para a Guiné. Saí de Boké para a Guiné e entramos pela zona leste junto com os guerrilheiros.

Esta foi a primeira vez e fiquei um mês nas matas a cobrir a luta armada através de vídeos e  fotografias. A segunda vez que vim a Guiné foi em 1974 e fiquei três meses nas zonas leste e sul do país. Quero afirmar aqui que durante os 55 anos de carreira de fotógrafo, as estadias na Guiné foram as mais desgastantes e senti o meu limite físico.

OD: Esteve no país duas vezes a cobrir a luta pela libertação do povo da Guiné-Bissau. E podia dizer-nos quais foram os momentos mais marcantes para si?

TO: Não participei diretamente nos combates, mas o grande perigo que fustigou muito os guerrilheiros eram as minas terrestres! E o bombardeamento aéreo, também criou dificuldades aos combatentes…   

OD: O que lhe marcou da presença colonial portuguesa na Guiné?

TO: Apenas estive nas zonas libertadas pelo PAIGC, portanto, não assisti diretamente à presença portuguesa.  Mas foi chocante ver um soldado do PAIGC com orelhas cortadas pelas tropas portuguesas…

O que me marcou, e que até hoje está na minha cabeça é a imagem das escolas improvisadas nas matas, onde as crianças se sentavam em troncos de árvores. Não havia professores formados para ensinar aquelas crianças, mas havia pessoas que sabiam ler e escrever essas pessoas ensinavam as crianças escrever e ler.   

OD: Quais são os acontecimentos ou reuniões importantes que cobriu durante a luta. E  fez algum trabalho com Amílcar Cabral ou algum alto Comandante da luta?

TO: Fiz fotos de algumas reuniões importantes. Tenho muitas fotos da luta, mas as fotos selecionadas para a publicação foram mais de 200. Lembro-me ainda que tenho fotos de Amílcar Cabral, quando visitou a cidade de Hiroxima (Japão) em 1972, mas também tenho algumas imagens de Luís Cabral, que era alto dirigente do partido e viria a tornar-se no Presidente da Guiné-Bissau, depois da independência.  

 OD: Conhecia pessoalmente Amílcar Cabral e qual era a vossa ligação?

TO: Não tive uma relação íntima para além da profissional com Amílcar Cabral. Quero dizer que apenas tive uma relação de trabalho com os responsáveis do partido que dirigiam a luta. Eu e Amílcar avistamo-nos uma vez e foi no Japão, quando ele participou na conferência de Hiroshima (uma cidade da ilha de Honshu, no Japão, que foi amplamente destruída por uma bomba atómica pelos Estados Unidos de Améria na Segunda Guerra Mundial, em 1945).

Cabral foi convidado para tomar parte numa conferência realizada pelo governo japonês naquela altura, em 1972. Isto é, um ano depois da minha primeira missão a Guiné Portuguesa (1971). E naquele encontro falamos sobre o meu trabalho na Guiné bem como dos trabalhos de mobilização e sensibilização que o partido levava a cabo a nível interno e externo, onde o partido queria concentrar mais as suas ações.

OD: Qual é a sua opinião sobre o mosaico étnico?

TO: É uma questão complicada para responder. De maneira geral,  o povo guineense, maioritariamente agricultores, transmitia-me a força de resistência, por outro lado, as pessoas de Cabo Verde eram mais abertas e ágeis.

OD: O que acha da hospitalidade do povo guineense e da sua culinária?

TO: O povo guineense é muito hospitaleiro e nada de desagradável aconteceu.  Comia arroz e frango que os soldados preparavam para mim e sempre gostei.  É inesquecível ainda hoje o sabor do avocado, que não havia no Japão há 50 anos.

OD: Em que língua comunicava-se com os guerrilheiros e os comandantes?

TO: O partido colocou uma pessoa a minha disposição que fazia a tradução. A comunicação era sempre em Inglês. Era um jovem cabo-verdiano de nome Cláudio e confesso que não me lembro o seu apelido ou digamos o nome completo, mas foi este jovem que o partido colocou a minha disposição na primeira missão em 1971. E passados alguns anos, informaram-me no meu regresso na segunda missão (1974) que o jovem tinha desertado da luta. Não sei o que lhe fez a fugir de uma causa nobre, mas lamento…

Já na segunda missão em 1974, foram igualmente dois jovens cabo-verdianos que trabalharam comigo na tradução. Estes dois, lembro-me dos seus nomes, apenas se chamavam Eduardo e Valdumar…

Quero informar que para além do primeiro livro intitulado “Nô Pintcha” e editado em 1972, voltei a publicar outro, o segundo, que intitulei “Camaradas Independência”, que fala das façanhas da luta armada na Guiné, Angola e Moçambique, publicado em 1976.

OD: Para quando tenciona visitar a Guiné-Bissau, um país independente?

TO: Lembro que dois anos após a independência fui convidado a visitar a Guiné-Bissau pelo governo de Presidente Luís Cabral. Participei na comemoração da festa da independência, isto é 1976. Recordo que naquela festa estiveram presentes os Chefes de Estados de países amigos da Guiné-Bissau, sobretudo o Presidente da Tânzania, Julius Nyerere.

O que me desapontou na altura é que os guerrilheiros trocaram as medalhas ou se condecoravam, enquanto o povo vivia na miséria e nem sequer tinha algo para comer. E para mim isso era impossível que os governantes tivessem a ambição de comprar medalhas para os militares e dirigentes em apenas dois anos da independência, sem se preocupar com a da miséria que o povo enfrentava… 

OD: Senhor Ogawa estaria disposto a disponibilizar essas fotos para a Guiné-Bissau?

TO: Tenho muitas fotos que pretendo disponibilizar às autoridades como património de todo um povo. Não quero que as fotos sejam objeto de apropriação de um grupo de pessoas ou que se façam aproveitamento político. Se convidarem para fazer exposição e depois deixá-las, estarei disponível. Seria um prazer fazer-se acompanhar do professor Ichy [Atsushi Ichinose, professor da Universidade Sofia em Tóquio, pesquisador do crioulo guineense], (risos).

Por: Assana Sambú

Foto: Arquivo Tadahiro Ogawa

Agradecimento especial ao professor universitário, Atsushi Ichinose

josé Mário Vaz:“SITUAÇÃO DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS DA IMPRENSA É UMA VERGONHA NACIONAL”

02/10/2019 / OdemocrataGB / No comments

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O Presidente da República cessante, José Mário Vaz, afirmou esta quarta-feira, 02 de outubro de 2019, que a situação dos órgãos da comunicação social públicos, em particular da Televisão da Guiné-Bissau (TGB), “é uma vergonha nacional”. Vaz lamenta o fato de os populares do interior não consigam assistir televisão pública e ter acesso às informações do país por causa de 30 milhões de francos CFA necessários para custear a retransmissão da emissão.

Chefe de Estado fez esta declaração no final da visita a quatro órgãos da comunicação social estatais, nomeadamente: a Radiodifusão Nacional (RDN), Agência Noticiosa da Guiné (ANG), Jornal Nô Pintcha (JP) e a Televisão da Guiné-Bissau (TGB), param se inteirar da verdadeira situação laboral dos órgãos públicos na Guiné-Bissau.

Em reação à situação dos órgãos públicos de informação, Chefe de Estado voltou a questionar sobre o paradeiro do dinheiro proveniente das receitas das alfândegas, contribuição e impostos, fundos autónimos, compensação das pescas para equipar órgãos da comunicação social, criando condições do trabalho aos profissionais dessas instituições e, também o pagamento dos salários aos mesmos. 

Presidente da República lamenta ainda o fato de tudo isso estar a acontecer e exigiu que os homens da imprensa acionem mecanismos necessários para encontrar soluções consentâneas , porque, conforme disse, o que viu nos órgãos da comunicação social públicos é triste e não os dignifica trabalhar sem mínimas condições.

“Eu não sabia que os jornalistas estavam com salários em atrasado de cerca de sete meses. Há dias falei e vou continuar a questionar sobre o paradeiro dos 10 biliões de francos CFA da emissão dos títulos. É muito triste o que estamos a assistir hoje na Guiné-Bissau: jornalistas não são pagos e consequentemente não se pode esperar que prestem um serviço de qualidade ao país.  Portanto, saio triste desta visita que fiz aos órgãos públicos”, observou. 

Questionado sobre por que só agora está a realizar uma visita aos órgãos da comunicação social estatais volvidos cinco anos, José Mário Vaz admitiu ter recebido várias vezes convite do Sindicato Nacional dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (SINJOTECS) para efetuar uma visita aos órgãos, mas falhou porque a sua agenda estava muito carregada  e está a fazê-lo agora, porque ganhou um tempinho da sua agenda.

“Vamos fazer uso da nossa magistratura de influência para ajudar os órgãos da comunicação social guineense”, garantiu José Mário Vaz.

Por: Aguinaldo Ampa

Secretário de Estado, João Batica Ferreira, reage às críticas do Presidente da República

Bissau, 02 out 19 (ANG) – O secretário de Estado da Comunicação Social, que acompanhou o chefe de Estado na  visita efectuado esta quarta-feira aos órgãos, públicos de comunicação social, realçou o momento da visita que diz coincidir com as vésperas da campanha eleitoral rumo as eleições de 24 de Novembro, em que o próprio José Mário Vaz é um dos candidatos.

“Portanto ai, o limite entre o candidato e o chefe de Estado é muito ténuo. Mas de qualquer das formas o Governo assume as suas responsabilidades partindo do princípio que embora José Mário Vaz é um Presidente cessante mas está em condições especiais decorrentes do acordo de Abuja e de Lomé”, disse João Batica Ferreira.

Relativamente as constatações do Presidente da República, Baticã Ferreira afirmou que é verdade que são factuais, mas disse haver  outros factos subjacentes: “é que efectivamente este estado de degradação já vinha acontecendo”.

“Não aconteceu nenhum  tempestade em que de repente tudo foi para água abaixo. Foi um processo ocorrido ao longo dos últimos tempos, sobretudo numa altura em que o Presidente da República é o responsável máximo dos sucessivos governos”, afirmou.

O secretário de Estado da Comunicação Social, disse que, em todo o caso, o Governo está empenhadíssimo em melhorar as condições desses orgãos, acrescentando que em relação aos 30 milhões que impede ver a televisão  no sul e leste do país, disse que é verdade, mas que se trata de uma  situação  herdada.

“Nós temos a consciência que o Estado não pode depender dos operadores de telecomunicações para fazer funcionar os seus órgãos. Dai que brevemente vão chegar novos equipamentos e materiais de estúdio, de reportagem para equipar os centros emissores regionais de televisão, e em breve trecho a situação vai ficar invertida”, informou o secretário de Estado da Comunicação Social. 

ANG/ÂC//SG

DESCENDENTES PRECISAM DE SABER QUE A HISTÓRIA DA ÁFRICA É TÃO IMPORTANTE E BONITA QUANTO A DA GRÉCIA

Quando começou a se interessar pela história da África, o poeta, diplomata e historiador Alberto da Costa e Silva ouviu: “Por que você, um diplomata, um homem tão letrado, não vai estudar a Grécia?”Justamente porque todo mundo estudava a Grécia, explica, ele resolveu estudar a África. Hoje, é o principal africanólogo brasileiro, autor de clássicos como A Enxada e a Lança: a África antes dos Portugueses e A Manilha e o Libambo: a África e a Escravidão, de 1500 a 1700. E, aos 84 anos, prepara um novo livro para completar sua trilogia sobre história africana.Formado em 1957 pelo Instituto Rio Branco, Costa e Silva serviu em vários países e foi embaixador na Nigéria. É membro da Academia Brasileira de Letras, autor e organizador de mais de 30 livros. Por sua obra, recebeu em 2014 o Prêmio Camões, o mais prestigiado da língua portuguesa.Filho do poeta piauiense Antônio Francisco da Costa e Silva, nasceu em São Paulo e viveu no Ceará até aos 12 anos, quando mudou-se para o Rio de Janeiro. Cresceu entre livros e costuma dizer que, como no verso do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), seu berço “ao pé da biblioteca se estendia”.Foi entre livros, quadros e esculturas, no apartamento em que guarda lembranças de vários lugares do Brasil e do mundo, que ele recebeu a BBC Brasil às vésperas do Dia da Consciência Negra para falar da história do continente pelo qual se apaixonou.BBC Brasil: Como o Brasil aprendeu a história da África?Alberto da Costa e Silva: A história da África durante muito tempo foi uma espécie de capítulo de antropologia e etnografia do continente africano. Eram livros que árabes e europeus escreveram sobre suas viagens. Data do fim da Segunda Guerra Mundial a consolidação a história da África como disciplina à parte, semelhante à história da Idade Média europeia, ou à história da China.Entre 1945 e 1960 seu estudo começa a ganhar grandes voos, tanto na África quanto na Europa, sobretudo Inglaterra e França. Curiosamente o Brasil esteve ausente disso. Os historiadores brasileiros sempre viam a história das relações Brasil-África com a África figurando como fornecedora de mão de obra escrava para o Brasil, como se o africano que era trazido à força nascesse num navio negreiro.Era como se o negro surgisse no Brasil, como se fosse carente de história. Nenhum povo é carente de história. E a história da África é uma história extremamente rica e que teve grande importância na história do Brasil, da mesma maneira que a história europeia.De maneira geral, quando se estuda a história do Brasil, o negro aparece como mão de obra cativa, com certas exceções de grandes figuras, mulatos ou negros que pontuam a nossa história. O negro não aparece como o que ele realmente foi, um criador, um povoador do Brasil, um introdutor de técnicas importantes de produção agrícola e de mineração do ouro.BBC Brasil: O senhor poderia citar alguns exemplos?Costa e Silva: Os primeiros fornos de mineração de ferro em Minas Gerais eram africanos. Fizemos uma história de escravidão que foi violentíssima, atroz, das mais violentas das Américas, uma grande ignomínia e motivo de remorso. Começamos agora a ter a noção do que devemos ao escravo como criador e civilizador do Brasil.Quando o ouro é descoberto em Minas Gerais, o governador de Minas escreve uma carta pedindo que mandassem negros da Costa da Mina, na África, porque “esses negros têm muita sorte, descobrem ouro com facilidade”. Os negros da Costa da Mina não tinham propriamente sorte: eles sabiam, tinham a tradição milenar de exploração de ouro, tanto do ouro de bateia dos rios quanto da escavação de minas e corredores subterrâneos. Boa parte da ourivesaria brasileira tem raízes africanas.Tenho a impressão de que todos temos dentro de cada um de nós um africano. Podemos não ter consciência disso, mas é permanente.Temos de estudar o continente africano não como um capítulo à parte, um gueto. A história da África está incorporada à história do mundo, porque ela foi parte e é parte da história do mundo. Que a história do negro no Brasil não seja isolada, como se o negro tivesse sido um marginal. O negro foi essencial na formação do Brasil.BBC Brasil: Qual a importância de um personagem como Zumbi?Costa e Silva: Havia um suplemento juvenil do jornal A Noite, sobre grandes nomes da história, e eu me lembro perfeitamente de um caderno sobre Zumbi. Zumbi está aliado de tal maneira à ideia de liberdade que é difícil escrever sobre ele sem ser apaixonado.Zumbi não é um nome, é um título da etnia ambundo, significa rei, chefe. Palmares era como um Estado africano recriado no Brasil. Na África era muito comum isso. Em torno de um núcleo de poder forte se aglomeravam vários povos e formavam um novo povo. Isso é uma hipótese.BBC Brasil: O senhor vê um aumento do interesse dos brasileiros pela questão negra? Costa e Silva: Tenho a impressão de que todos temos dentro de cada um de nós um africano. Podemos não ter consciência disso, mas é permanente. Há naturalmente hoje em dia uma percepção mais nítida do que é a África, a escola começa a dar uma visão mais clara.Mas ainda apresenta visões distorcidas. Uma vez uma professora veio me dizer que era absurdo que apresentássemos Cleópatra como uma moça branca, quando ela era negra. É um equívoco isso. Cleópatra não era negra nem mulata. Era grega. Os Ptolomeus, uma dinastia grega, governavam o Egito e não se misturavam.BBC Brasil: Na África também havia escravos, não?Costa e Silva: Escravidão houve em todas as culturas no mundo. Todos nós somos descendentes de escravos. Houve escravidão em toda a Europa, na Indonésia, entre os índios americanos, na Inglaterra. Na África havia todos os tipos de escravidão, e até hoje em certas regiões africanas os descendentes de escravos são discriminados. Quase toda a África teve escravidão.A escravidão transatlântica, da África para as Américas, a nossa, tem uma diferença básica: pela primeira vez era uma escravidão racial. Era um especial aspecto da perversidade dela. No início não, mas a partir de certo momento, passa a ser exclusivamente negra. Foi o maior deslocamento forçado de gente de uma área para outra que a história já conheceu, e o mais feroz.Acho que tem de haver cota em tudo. Se você vai se candidatar a um cargo de atendente de hotel de primeira classe, se você for negro, você tem dificuldade.O Brasil foi o último país das Américas e do Ocidente a abolir a escravidão. O último do mundo foi a Mauritânia (na África), em 1981.BBC Brasil: Como analisa o racismo hoje no Brasil?Costa e Silva:Existe racismo, e muitíssimo. No nosso racismo, não temos um partido racista, mas temos repetidas manifestações de racismo no seio da sociedade. É dificílimo, para um negro, ascender socialmente. A discriminação se exerce de forma muitas vezes dissimulada, mas que os marca muito. Mas está mudando. Sinto mudanças.É importante que os descendentes de africanos saibam que eles têm uma história tão bonita quanto a história da Grécia. Que eles não eram bárbaros, que não são descendentes de escravos. São descendentes de africanos que foram escravizados.Fonte indicada: BBC BrasilConosaba/portalraizes.