A entrevista do Coordenador do Madem no programa Causa e Efeito da televisão estatal portuguesa, revelou duas coisas: primeiro, um político absolutamente despreparado tanto do ponto de vista intelectual como moral.
Sê meigo, Zoão
Costuma-se dizer que mentir, ou faltar à verdade, é inerente ao exercício político. Mas o arcaboiço de um político também se mede pela sua capacidade em navegar subtilmente na fronteira entre a verdade e a mentira. E os efeitos podem ser devastadores.
Como é possível começar uma entrevista com uma mentira tão óbvia – “a maioria do povo guineense votou no Madem” – se perdeste as eleições?
Este não foi apenas um lapsus linguae, mas revela a verdadeira personalidade de um indivíduo que não mede o que diz, mesmo diante das câmaras de uma televisão que é vista por milhões de pessoas, mesmo sabendo que essa revelação é tão grosseira e intragável.
O resto da entrevista foi a continuação dos mesmos episódios de contra-verdades e incoerências, que obrigavam o jornalista a corrigi-lo com tacto.
O artigo 27 do Regimento da ANP? O entrevistador leu-lhe o artigo para lhe provar que o que estava a dizer é mentira. A exibição dos cartões de votação (sim, não, abstenção)? O entrevistador perguntou-lhe se estaria hoje a reclamar se o seu nome tivesse sido votado favoravelmente.
Enfim, toda a entrevista foi um descalabro, um festival de asneiras que dá vergonha e até dói.
Mas havia mais. Um segundo facto que esta entrevista veio confirmar: a costumeira atitude do Madem e dos seus responsáveis em responsabilizar tudo e todos menos a si próprio.
Sem argumentos para justificar o péssimo desempenho do seu líder, foram pelo caminho mais fácil: um ataque directo e desenfreado contra o João Rosário, o jornalista que o entrevistou e que desmontou a paródia em se estava a tornar a coisa.
Mas quando a moeda caiu na ranhura, o jornalista que antes se deixara fotografar alegremente no estúdio com o Braima Camará, seria, segundo o Madem, “um apoiante do PAIGC, um pau mandado do Presidente do PAIGC”, etc, etc.
Este comportamento é revelador daquilo que é a idiossincrasia política do Madem: a culpa para todos os problemas, quaisquer que sejam eles, é do PAIGC e do seu líder.
A entrevista do Coordenador do Madem correu mal? A culpa é do PAIGC e do seu Presidente. A ANP não elege o Coordenador do Madem para o cargo de II Vice-Presidente? A culpa é do PAIGC e do seu Presidente. O Presidente não nomeia o Primeiro-Ministro? A culpa é do PAIGC e do seu líder.
Quanto à exposição mediática do seu Coordenador, o Madem devia encarar a coisa com mais seriedade. O homem não tem preparação para a política, todos sabemos.
Agora, das duas uma: ou aconselham-no a evitar as luzes da comunicação social (como aliás faz, e bem, o líder do PRS) ou então obriguem-no a preparar-se devidamente antes de ir a uma entrevista. É que não é a primeira vez que o Coordenador do Madem passa por semelhante humilhação.
Não se trata só de um problema de sotaque da língua portuguesa, como alguns dos seus apoiantes tentam justificar. Sotaque, quase todo o não nativo de Portugal tem e não constitui problema nenhum.
O problema é a falta de conteúdo, a fraca articulação e uma tendência febril em fazer afirmações que toda a gente sabe que não é verdade.
Esta entrevista, essa é a verdade, afundou ainda mais a imagem do líder do Madem, por mais que os seus apoiantes tentem tapar o sol com a peneira. AAS
Edita: Ditadura de Consenso.