HISTÓRIA DE GUMBÉ

A música da Guiné-Bissau é normalmente associada com género poli-rítmico denominado de “gumbé,” que constitui a primeira exportação musical do país.

A calabaça ou simplesmente “cabaz” foi um dos primeiros instrumentos musicais da Guiné-Bissau e é usado de uma forma extremamente rápida, produzindo sons que também provocam complexas danças, sejam elas tradicionais ou modernas.

O grande denominador de estilo Gumbé são as canções, muitas delas cantadas em Crioulo e revolvendo à volta de temas tais como a sociedade, as relações humanas e amorosas, a amizade, as controvérsias e muito recentemente noutros tópicos, nomeadamente o Sida e as questões políticas e da estabilidade do país.

A palavra “Gumbé” é sempre usada genericamente, albergando quase todos os estilos musicais da Guiné-Bissau. Todavia, o estilo “Gumbé” tem juntado mais de uma dezena de géneros musicais — conhecidos como músicas folclóricas ou tradicionais. Alguns exemplos destes estilos são: Tina, Tinga, Brocxa, Kussundé (da etnia Balanta), Djambadon (Mandinga), e Kunderé (Bijagós). Muito embora alguns destes estilos sejam apropriados para rituais, cerimónias tradicionais e fúnebres, a pouco e pouco eles estão sendo incorporados na música contemporânea de Gumbé.

Outro elemento relevante quando se fala da música da Guiné é a união que ela incentiva entre guineenses de diversas etnias e religiões. Este é o caso do fenómeno de “mandjuandades”. Como aliás escreveu Maria Manuela Abreu Borges Domingues na sua dissertação ESTRATÉGIAS FEMININAS ENTRE AS BIDEIRAS DE BISSAU, “a prevalência das associações pluri-étnicas indicia a índole iminentemente urbana das mandjuandades de Bissau, onde a coabitação das diversas culturas acabou por originar formas de expressão e solidariedades sociais específicas, fruto das comuns condições de existência material e vivências quotidianas”. Aliás tem sido a maior característica da música Gumbé em suas diversas formas.

Independente desde 1973 (e reconhecida um ano mais tarde pela administração colonial portuguesa), Guiné-Bissau não tem sofrido influências musicais significantes de Portugal (fado), contrariamente daquilo que aconteceu em países como Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde.

No entanto, a existência de Gumbé só veio à luz do dia depois de 1973, quando Ernesto Dabó produziu em Lisboa o tema “M’Ba Bolama”. Diz-se que a produção desta música ocorreu sob à alçada de Zé Carlos, também o responsável pela formação de uma das mais populares bandas musicais na Guiné-Bissau, Cobiana Djazz. Estávamos em 1972.

Quase uma década depois, viveu-se a “era” de Super Mama Djombo, cujo primeiro trabalho estreiou-se em 1980 com o álbum “Cambança”, tremendamente popular por todo o país.

A história conta-nos de que os primeiros grupos musicais da Guiné-Bissau tais como a Africa Livre, o Chifre Preto e a Kapa Negra tinham relações “tensas” com o poder político dessa altura.

Nas mesmas circunstâncias esteve o histórico Zé Carlos, considerado um crítico do poder colonial e da administração pós-independência. O cantor acabou por morrer num acidente de aviação em Havana, Cuba e até à esta data persistem rumores segundo os quais houve uma conspiração para eliminar fisicamente o músico devido ao conteúdo político das suas canções.

Mais tarde, a orquestra Super Mama Djambo embora tenha suportado o partido no poder, o PAIGC, também sempre criticou aquilo que apelidou de “nepotismo” e “corrupção” dos governantes.

E nos finais de 1980s, estilos Kussundé começaram a ganhar alguma popularidade no país, liderado por Kaba Mané, cujo álbum “Chefo Mae Mae” combinou as forças da guitarra eléctrica com as melodias e ritmos balantas. Na mesma linha de actuação surgiram cantores tais como Ramiro Naka e Tchando que muito contribuiram para a “exportação” da música guineense além das fronteiras.

Mas, em abono de verdade, o poder político sempre esteve preocupado com as mensagens dos artistas guineenses. Um exemplo clássico foi a prossecução do cantor Zé Manel depois do lançamento de “Tustumunhus di aonti” (Os Testumunhos de Ontem) em 1983, cujas letras foram escritas maioritariamente por Huco Monteiro, também ele escritor e poeta.

Hoje são muitos os que têm contribuído para a “evolução” de Gumbé, incluindo artistas tais como Sidónio Pais, Justino Delgado, Manecas Costa, o grupo Tabanka Djaz, Rui Sangará, Dulce Neves, Nené Tuty, Buka Pussick, Maio Copé, entre tantas outras figuras de relevo.

Mais como o Gumbé vai ganhando contornos internacionais, os artistas, músicos, compositores e produtores nacionais vão pesquisando as formas de “incorporar” as tradições musicais da Guiné-Bissau nas novas produções. Exemplos destes esforços são os álbuns “Mom na Mom”, produzido por Juca Delgado; “Paraíso di Gumbé” de Manecas Costas; “Badjapucen” de Silvestre Gomes; o agrupamento «Netos di Gumbé» e os recentes trabalhos de Nino Galissa e de Eneida Marta. E falando da Eneida, ela tem uma das mais belas vozes africanas da actualidade, misturando ritmos de Gumbé com a Morna de Cabo Verde ou o Singa, cantando nas línguas Mandinga, Fula, Crioulo, Futa-fula e Português. O álbum “Lope Kai” exemplifica este esforço.

Outros contributos para o enriquecimento da cultura e música Gumbé devem-se à nova geração dos cantores guineenses que, abraçando o estilo original de Gumbé, vão-se ajustando aos tempos modernos…e daí que muitos têm adicionado o sabor do “rap” aos sons do “nosso” Gumbé.
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DEFINIÇÃO DO ESTILO GUMBÉ
Definição: gumbé é o estilo de música urbana guineense/africana. Melodia que acompanha os poemas dos djidiu nascida da fusão da música crioula ” Badjo Di Sala ” com a música nativa. O gumbé surgiu no princípio da segunda grande guerra; associação multicultural de jovens (várias etnias e religiões), com fins de recreação e interajuda (Skinner, 1978; 199).

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